Seria o espaço expositivo a minha casa?, 2023

instalação multimídia com vídeo; áudio; mobiliário e objetos pessoais

colchão; mesa de cabeceira; TV de tubo; mesa rattan; quadros; porta-retratos; objetos pessoais; cartelas de medicamentos; escultura; lixo doméstico; filtro de barro; álbum de fotos;

vídeo registro em VHS, 2h de duração (1999-2003);

áudio: 5 registros sonoros (2020–2022).

dimensões variáveis

observações: Esta obra conta com inventário detalhado dos objetos que a compõem, disponível mediante solicitação.

fotografia por Julia Thompson.

Fotografia por Julia Thompson.

A vivência da minha infância morando dentro de um ambiente empresarial até os oito anos de idade, como algo mais constante em mim do que a vivência em uma casa propriamente dita, e assim mudando de casa mais de onze vezes ao longo dos anos, e morando sozinha desde os 19, a impermanência nos lugares me resultou em um estado de não-pertencimento constante. A partir do não reconhecimento de lar em cada casa que brevemente passo, este ambiente passagem, na busca de um espaço físico querendo sentir que é onde tenho segurança e privacidade, mas continuo com o ato falho.

Sempre em transição, seja interna ou externa, sou uma hospedeira do meu corpo e dos recintos em que eu passo, sempre em locomoção. Objetos pessoais, meu próprio colchão, fotografias de infância, do pai, do avô e de animais próximos oferecem memórias, quadros pintados entre 2005 e 2006, e entre 2018 e 2021, todos anteriores à transição da artista, com o meu antigo nome exposto nas assinaturas, ecoando e repetindo no meu “quarto”, inspirado também no trabalho My bed, de 1998, da artista Tracey Emin.

Um vídeo registro, filmado em VHS, de 2 horas com algumas passagens de tempo mas que todas são gravações realizadas no local da primeira casa-firma onde foi meu primeiro habitat, nos dias dos aniversários meu e de meu irmão, cinco áudios gravados durante a pandemia tocando no ambiente onde eu relato medos, pânicos e delírios que o tempo causou. Em casa, mesmo sozinha, sempre me sinto rodeada, exposta pela janela aberta, pelas minhas luzes acesas ou apagadas, pelo chuveiro, descarga e torneira, onde a água passa pelo encanamento dos outros vizinhos, assim trago minha casa para a janela do espaço expositivo.

O corpo é território em transformação, a instalação revela suas camadas profundas. O passado emerge como fosseis fixados na parede, enquanto o presente escorre pelo chão. Tudo repousa em suspensão, entre o que já foi e o que ainda se forma. 

Fotografia por Julia Thompson.


“Crônicas Baseadas em Fatos de I So Lamento” é uma obra sonora composta por cinco áudios gravados durante o isolamento da pandemia. Entre ficções paranoicas e premonições íntimas, os áudios revelam fragmentos de um estado emocional em desequilíbrio, onde o real e o imaginado se entrelaçam. O som “Céu, Raven ou Nárnia” tornou-se catalisador da instalação: ao ser reescutado anos depois, ativou memórias latentes, como se o passado tivesse deixado mensagens para o presente. Em looping, os áudios constroem uma ambiência de vulnerabilidade, solidão e mania de perseguição. Ao serem inseridos na instalação “Seria o espaço expositivo a minha casa?”, reverberam no espaço físico e psíquico da artista, fazendo do ambiente uma extensão de seu íntimo. A obra convida o espectador a experimentar as fissuras da percepção e da memória, onde o som ativa sensações e o presente é assombrado por ecos do passado.

Fotografia por Julia Thompson.

Fotografia por Julia Thompson.

Fotografia por Julia Thompson.

pó, ácaros, lençol, encardir, cheiro, acúmulo, lixo, excesso, desabitar, desleixo, falecimento, desfaler, corpo, ali, habitat, desabilitar.

Paleontologia,
Geomorfologia e
Bacia sedimentar.

- Aniversários Mickey e Ursinhos Carinhosos -

- Gravação por Zé Purgato, Zé Ivo, Paulo, Ari e outros -

Primeira casa de Joana das 11 por onde passei, acredito que 6 anos foi o último aniversario que eu fiz nessa casa, me lembro que meu pai tinha uma cocheira nos fundos da casa que era a casa da Xuxa a da Sasha as éguas e na época já morávamos nos segundo primeiro andar porque o térreo era a firma dos meus pais. O térreo era a firma, depois o terreno do lado virou da Xuxa e Sasha, o primeiro andar a nossa casa, e o segundo andar era lavanderia e salão de festas. A casa era numa esquina de uma rua sem saída na região na Ponte Rasa, próximo ao Ermelino Matarazzo em São Paulo.

- 3 anos Joana 8/11/2000 -

- 9 anos José (Irmão) 30/06/2002 -

- 6 anos Joana 08/11/2002 -